10.8.11

Super 8

E depois de muita espera e quando digo muita espera estou sendo bem fiel ao sentimento. Passaram meses que vi o primeiro teaser, na época o piloto de um filme que anunciava a união de dois monstros das telas, JJ Abrams o pai de Cloverfield/Lost/Fringe e o pai de ET, Contatos imediatos, Lista de Schindler, Resgate do soldado Ryan(e paro por aqui pois a lista é algo perto do infinito).
Adams apesar de ser novo nas telinhas e telonas emplacou Lost uma das séries mais faladas da última década, série que nem vi e também Fringe, outra que não acompanho e nem vi muita graça mas muita gente que admiro curte pra caramba. Spielberg é um caso a parte. Ao contrário de muitos diretores começou fazendo blockbusters , filmes com megabilheterias, e aos poucos começar a fazer filmes menos fáceis e mais “alternativos” e nos últimos tempos pelo menos no meu caso cada série, filme ou projeto com seu nome já me deixa empolgado e excitado pra conferir.
Mas voltando ao primeiro teaser a sequencia de poucos segundos já anunciava algo genial e emocionante com o acidente do trem (que não tem nem 10% dos detalhes e efeitos do que acontece no filme) e um vagão de trem sendo esmurrado internamente por algo e quando digo algo é justamente isto pois até então ninguém tinha certeza do bicho enfurecido que se encontrava dentro de um vagão. Assistindo ao trailer as únicas certezas eram os protagonistas, crianças com cameras super oito na mão tentando fazer um filme amador, um enorme acidente de trem que carregava em seus vagões um monstro, um alien, uma vaca louca, etc. Apesar do choque inicial pouca coisa surgiu na internet além de especulação ao redor do filme e muito tempo rolou para só no fim do ano passado, início deste ano surgirem outros teasers, trailers e material promocional a respeito do filme.
Ontem minha tortuosa espera terminou. Alguns colegas aqui estavam com um drive externo e alguém falou “super oito” e já levantei da cadeira e fui conferir, era realmente uma cópia em bom estado de um dos filmes mais esperados por mim até hoje. Se atentem, não estou dizendo que foi o melhor filme que já vi, mas o mais esperado com toda certeza e talvez só outro filme foi tão esperado por mim e não por acaso foi “O retorno de Jedi”, outro filho de Spielberg.
O filme é muito mais Spielberg q Adams. No início aquela sequencia fácil e mastigada e explicadinha que só Spielberg pode fazer. O acidente que mata a mãe do protagonista mais importante dos personagens da trama. Esta morte e até a forma como o protagonista lida com esta perda será utilizada num momento importantíssimo para o filme e para o desfecho da estória. Já faz um bom tempo que assisti Conta comigo, filme bem antigo de Spielberg baseado num livro do Stephen King e acho que o Super 8 tem muito deste filme e a outra referência seria Cloverfield, de Abrams. Amizade entre crianças e seus pactos, sua fidelidade. Aquela amizade que só acontece na juventude e poucas vezes são superadas no decorrer da vida das pessoas. Cloverfield, pois as primeiras participações do “bicho” não revelam detalhe algum, cameras rápidas, escuridão, flashes e nem depois de assistir as cenas algumas vezes você conseguirá imaginar o bicho com seus detalhes. Só nas partes finais que ele realmente vai mostrar sua cara e mesmo assim não é algo facilmente assimilável.
Se você pretende ver o filme e não quiser saber alguns detalhes melhor parar por aqui, apenas peço que preste muita atenção quando as crianças começarem a filmar, na estação do trem.
A cena do descarrilamento do trem é um primor e não me lembro de ter visto isto muitas vezes no cinema, mas mesmo assim me arrisco a dizer que foi a cena mais perfeita que já vi, com trens envolvidos. Por alguns minutos fiquei com os olhos vidrados olhando tudo e tentando encontrar detalhes significantes pra trama. A partir desta cena tudo lembra bastante o caso Roswell. Coisas estranhas começam a acontecer na pequena cidade Lilian como cachorros desaparecendo, motores de carros sendo roubados, cabos de energia elétrica sumindo e a cidade se torna um caos sobre humano, adicione a presença da força aérea americana no cenário e você terá um rabisco do inferno feito em Paint. Toda cena do descarrilamento acabou sendo registrada em super oito pelas crianças acidentalmente e cabe ressaltar aqui que o filme se passa em 1979, portanto se prepare para ouvir The Cars, fones de walkman, um personagem falando “Posso gostar de disco music novamente” e por ai vai.
Passei um bom tempo odiando os filmes de Spielberg por explicarem tudo tintin por tintin e não deixarem nada para o expectador adivinhar ou escolher sua própria interpretação mas tenho que me render que nos últimos anos só saiu coisa boa com o nome dele e mesmo super oito em determinados momentos ter caído neste mesma armadilha das explicações aqui isto ocorre numa frequência bem menor e nas horas que ocorre não tira o clima do filme. Outra coisa a se ressaltar são os personagens e o carisma envolvido, a trama apaixonante e coisas que costumava encontrar nos livros de Stephen King e não tem como não pensar nele assistindo este e outros filmes de Spielberg, aquela coisa americana pré anos oitenta ao extremo. Têm alguns momentos piegas no filme, aquele antigo personagem odiado virando um bom moço, pais e filhos, amigos juvenis, amor juvenil e aquela coisa, mas, nada disso ofusca a beleza do filme.
Quanto a Adams, eu um cara que nunca acompanhei ou assisti Lost me declaro fã incondicional das táticas deste monstro marqueteiro e de sua capacidade para filmes de monstros onde o monstro praticamente não aparece deixando tudo pra imaginação do expectador. Deve ter sido difícil pra ele convencer o Spielberg a não mostrar o bicho, mas aparentemente ele conseguiu fazer isto boa parte do filme. Os detalhes da nave também são impressionantes e este filme só serviu de avalista para eu assistir e acompanhar estes dois por mais um bom tempo.
Pra mim foi um grande filme. Tinha tudo pra odiar ele de tanto tempo que esperei e tudo que eu esperava que seria e talvez nem ter sido tanto quanto esperava mas mesmo assim foi incrível e todo ano eu deveria assistir algo assim. As cenas do descarrilamento, os primeiros “ataques” do alienígena, a montagem da nave foram as melhores partes, as mais emocionantes. Mesmo o clima meio Conta comigo/Goonies do filme, isto em nada tirou a beleza final da coisa toda. Poderia afirmar sem me arriscar que o filme fala muito mais de amizade, fidelidade e aceitação de coisas que não podemos mudar e um pedido de desculpas ao planeta e ao mal que fizemos aos outros do que propriamente um filme sobre extraterrestres.

Sem comentários: