10.8.12

Sheep *



Pequeno Flashback aqui, retrocedendo 21 anos atrás. Era 91 e eu estava no último ano (quarto) do curso de Eletronica, no Santo Inácio em Porto Alegre, estudava de noite. Um mundo enorme estava se abrindo para mim e não tenho muito como explicar isto ou quantificar e apenas posso dizer que a vida batia na minha porta, abria as janelas, poros enfim. Era uma noite qualquer e muito provavelmente eu estava de férias do colégio e estávamos indo para um jogo de futsal, eu era goleiro e me lembro que estávamos dentro do carro do André e tinha mais alguém junto ou alguéms, muito provavelmente o Tuche e/ou o Marcelo.
Eu já tinha escutado falar alguma coisa, o Aquiles (sempre ele) que estudava no mesmo colégio um dia me falou “Bah, tem uma banda nova ai, chamada Nirvana que tá estourando em tudo quanto é lugar e é bem tri e é uma coisa bem diferente”. Aqui um pequeno parêntese, pois  é mais uma afirmação difícil de quantificar. Para nós recém saídos dos anos 80, gravações afundadas em reverb, eco na bateria, no baixo e em tudo quanto é lugar eu acho que os timbres das distorções, baixos alguma coisa ali naquele som era novo pra nós. Pra mim o som era e ainda é punk e era isto que o Kurt queria mas, enfim, terminado este parêntese, leia “diferente” e interprete do jeito que quiser.
Mais uma vez voltando ao carro, estávamos andando e de repente começa um som no rádio. Uma guitarra limpinha plugada num amplificador fazendo uma introdução que de cara já se via que não inventava a roda era simples até a medula. Mesmo que a construção daquelas 4 notas fosse algo meio raro, Fá, Sí bemol, Sol sustenido e Dó Sustenido e depois do riff, simplesmente entravam bateria, baixo e o cara da guitarra pisava numa turbina de avião que despejava lixo nuclear pegando fogo e saindo pelos alto falantes e logo me veio na cabeça um PUTAQUEPARIU de 5 minutos e de repente aquela guitarra sumia, ficava o baixo, com a bateria marcada e apenas outra coisa ainda mais simples na guitarra. Na hora pensei de cara no Pixies, Loud Quiet Loud e o cara começa a cantar com aquela voz rouca, lindo e tipo pensei na hora “será que isto não é o Nirvana?”. E veio o refrão ainda mais lindo, dava impressão que o orgasmo não ia acabar nunca, cada parte que viria era mais a fude que a anterior e não precisei esperar, depois de ouvir o solo, e ouvir as outras partes que, aquilo só poderia  ser o tal do Nirvana que tinha ouvido falar dias antes. Não era possível pra mim ouvir algo tão massa e ser realmente aqueles caras que estavam conquistando o mundo, uma banda punk, suja conquistando um mundo que meses atrás era do Michael Jackson, dos glams.
Muito provavelmente não foi a primeira nem a última banda que escutei, vinda de Seatle, era fato que todas as bandas tinham influências parecidas entre elas e um som distinto mas mesmo assim todas elas carregavam algumas características que acabavam as tornando irmãs. Nirvana era de Aberdeen e não Seatle e foi a que chegou mais longe e teve o fim mais rápido. Semana baixei toda a discografia para ouvi-los novamente e foi muito bom, grande banda.
*Sheep seria o nome do Nevermind, antes de se tornar Nevermind. Smells like teen spirit era um desodorante para crianças e esta frase foi pichada no apartamento de Kurt, por Tobi Vail, do Bikini Kill, sua namorada na época.