Alterações de primeira ordem
Percebi nos últimos dias que a experiência do exílio tem me proporcionado mudanças e até este momento não posso dizer se elas são agradáveis, bem-vindas ou não. A vida como eu conhecia não existe mais, pelo menos temporariamente. Tenho tido contato com outras pessoas aqui, não estou completamente isolado. No trabalho, no lugar onde moro, mas mesmo assim todas elas têm algo em comum. São pessoas que conheço a menos de três meses e a partir disso muita coisa sai frustrada.
Sou uma pessoa um tanto intolerante com novas pessoas e não consigo me entregar completamente. Já era difícil conseguir mapear as pessoas no Sul, num habitat conhecido e aqui tem sido ainda mais difícil. Outro conflito que existe é que estou aqui de passagem. Não vim aqui para terminar minha vida apenas passear eu poderia dizer e isto faz com que eu não me entregue completamente as coisas. Muitas vezes eu penso que quanto mais AQUI estou, menos pertenço ao meu lugar.
Nos últimos dias tenho me sentido vazio e isto tem aumentado gradativamente. Fazem 3 semanas que não saio de casa com exceção de ir trabalhar. A casa é um quarto e um banheiro em qualidade um tanto duvidosa o que deixa o meu confinamento ainda mais sem graça. Nas últimas semanas de tanto sofrer por saudade mediquei-me para não sentir-me tão mal e isto acabou me deixando um tanto frio e ainda mais sem perspectiva. Me dá um desgosto muito grande me lembrar as vezes que o Heitor está lá no Sul brincando, aprendendo, sorrindo e crescendo e eu estou aqui preparando algo pra ele que ele só se dará conta no futuro e se vai aprovar o que fiz só ele sabe. Quase morro de saudades dele e se eu me entregar completamente a este sentimento, nada mais funciona, dentro e fora. No que se refere a Summer as emoções não são tão diferentes, ela por sua vez é adulta e até então, tem sido paciente com isto tudo. Sente saudade e está passando tudo isto como pode. É muito chato saber que procurei tanto, procuramos tanto e quando achamos nos afastamos ao menos fisicamente.
Fica aqui a pergunta se é melhor sofrer de saudade nas sextas feiras, na volta do Recife Antigo, quando falo com Heitor e com Summer ou se é melhor ser isto que me tornei.
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